A Associação das Mulheres Diplomatas do Brasil (AMDB) tem trabalhado para promover a igualdade de gênero e a diversidade no Ministério das Relações Exteriores (MRE). Em entrevista ao Brasília in Foco, a presidente da AMDB, embaixadora Irene Vida Gala, falou sobre os desafios enfrentados pelas mulheres diplomatas e as estratégias da Associação para superá-los.
Por Fabiana Ceyhan
A AMDB foi criada em janeiro de 2023, mas o movimento de mulheres diplomatas brasileiras existe há dez anos. Como a Associação vem se desenvolvendo ao longo dos anos?
A AMDB é fruto de uma história que começa dez anos atrás, com um grupo de mulheres diplomatas brasileiras que se organizavam em uma plataforma, favorecida pelos contatos via internet. Era um mecanismo bastante fluido de diálogo e foi eficaz para começar a produzir, entre as diplomatas, uma consciência de que tínhamos uma agenda comum. No início deste ano, com a vitória do presidente Lula, houve a decisão, dentro do grupo, de criar a associação de mulheres. Nosso grupo reunia um terço das mulheres diplomatas. Após a criação oficial da Associação, ela cresceu bastante e hoje já reunimos mais de dois terços das mulheres diplomatas na ativa.
A AMDB se formaliza, portanto, quando o movimento da consciência já está bastante maduro no seio das diplomatas brasileiras. A gente tinha o entendimento que podíamos nos organizar como sociedade civil, formando uma associação, com CNPJ, com propósitos declarados e estatutos.
O principal objetivo da AMDB é a criação de um Itamaraty mais igualitário e representativo. Diante disso, quais medidas concretas a Associação propões para incentivar a participação e a progressão de mulheres na carreira diplomática?
De fato, nossa proposta é criar um Itamaraty mais igualitário e, sobretudo, mais inclusivo. Porém, trata-se de uma meta de médio para longo prazo. É bastante difícil imaginar que possamos, no espaço de um ou dois anos, criar essa instituição que a gente espera.
A AMDB já vem trabalhando, contudo, para tornar o MRE um espaço mais igualitário. Nosso objetivo número um é criar a paridade de gênero no Itamaraty. Estamos fazendo isso, em primeiro lugar, buscando criar um espaço de diálogo com as chefias do Ministério.
O segundo objetivo é criar uma consciência entre os próprios diplomatas. Somos uma minoria, apenas 23% de mulheres na carreira diplomática do MRE. Precisamos criar essa consciência no conjunto dos diplomatas, incluindo os outros 77% de homens, de que deve haver um espaço ampliado para a mulher dentro do Itamaraty.
Depois, precisamos criar essa consciência na sociedade como um todo, nas autoridades, porque a nossa pauta tem um impacto grande. O Itamaraty é um órgão importante, que serve de referência dentro da administração pública. Por isso, o trabalho de conscientização e de informação ou, como a gente diz, de letramento, é bastante importante.
De uma forma muito objetiva temos adotado uma ‘política de fases’. Estamos atuando desde que a AMDB surgiu, há cerca de nove meses. Trabalhamos muito diretamente para conseguir ampliar a presença de mulheres nas promoções que ocorreram nesse período, no sistema que temos de pré-promoção, chamado quadro de acesso.
Também temos feito uma campanha ampla para incluir mais mulheres nas chefias de postos diplomáticos. Então, fazemos esse diálogo internamente com a instituição e, externamente, fornecemos informações sobre a existência, sobre a situação de mulheres dentro do Itamaraty. Afinal, sabemos que o Itamaraty não é uma instituição associada com a imagem de mulheres. Logo, temos que trabalhar muito nisso. Acredito que temos feito um trabalho bastante positivo este ano e conseguimos grande repercussão sobre a nossa existência e a pauta da AMDB.
A AMDB enfatiza a importância do conceito da interseccionalidade, que reconhece que as mulheres não formam um grupo homogêneo. Nessa ótica, quais são os desafios enfrentados pelas mulheres diplomatas em suas carreiras, especialmente as que pertencem a grupos minoritários, e quais estratégias a AMDB está adotando para superá-los?
A interseccionalidade é, para nós, a própria essência da nossa existência. Somos diversas, como mulheres que estão na carreira diplomática. Somos diversas, seja do ponto de vista de procedência geográfica, seja do meio econômico de onde cada uma vem. Também existe a questão de raça. Temos mulheres negras no Itamaraty e, dentro da nossa associação, há um grupo de mulheres negras que lança seu próprio olhar sobre todas as nossas pautas a partir da questão racial. Para nós, da AMDB, a interseccional.
Leia a entrevista completa com Irene Vida Gala, presidente da AMDB em Diplomatas brasileiras defendem paridade de gênero e mais diversidade no Itamaraty - Brasília in Foco (brasiliainfoco.com)